“Pintei um quadro monstruoso que eu mesma não sabia como tinha pintado, por que tinha pintado, achei uma coisa monstruosa …era uma cabecinha pequenina, com aqueles pés enormes, sentado numa superfície verde”.

Mas, mais tarde, a Tarsila percebe:
” Quando eu era criança, aquelas negras velhas que moravam na fazenda contavam histórias de medo. Contavam que tinha uma sala fechada porque tinha uma abertura no teto da casa e a gente ouvia: Estou caindo, estou caindo! Essa é uma história que muitas pessoas do interior conhecem. Eu, naturalmente, sendo criança, ao ouvir falar essas cosias sentia um medo espantoso. Com certeza acreditava que caía um braço enorme, um pé enorme, tudo era enorme…. então associei uma coisa com a outra e descobri que tudo aquilo eram reminiscências da infância”.

Tarsila do Amaral

“Cada vez me sinto mais brasileira: quero ser a pintora de minha terra. Que gratidão eu sinto por ter vivido a minha infância na fazenda. As reminiscências dessa época tornaram-se preciosas para mim. Eu quero, na arte, ser a caipirinha de São Bernardo, brincando com bonecas do mato, igual o último quadro que estou pintando”.

Carta à famíilia, 19 de abril de 1923.

Capa do catálogo e convite para a primeira exposição individual da Tarsila em Paris em 1926

Você sabe o que é a antropofagia?

É um termo que significa canibalismo e que simbolicamente aludia a querer engolir a cultura europeia, que era a que estava em vigor na época, para transformá-la em algo muito brasileiro.

Oswald de Andrade inspirou-se na obra “Abaporu”, para criar o Manifesto Antropofágico. Um texto que deu origem ao movimento antropofágico.
O Manifesto Antropofágico, escrito por Oswald de Andrade, foi publicado em maio de 1928, no primeiro número da Revista de Antropofagia.

A obra “Abaporu” foi um presente de Tarsila para seu marido Oswald pelo aniversário dele. Quando ele a viu disse:
“isso parece um antropófago, um homem da terra”.

“Abaporu” é uma palavra da língua tupi-guarani, que significa “homem que come carne humana”.

Por que a artista teria pintado esse personagem com um braço e uma perna tão grandes?

Manifesto Antropofágico (extrato)
Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Econômicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Express mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.

Tupi, or not Tupi, that is the question.
Contra todas as catequeses. E contra a mães dos Gracos. Apenas me interesso pelo que não é meu. Lei do homem, lei do antropófago.

Oswald de Andrade. Piratininga, ano 374 da Deglutição do Bispo Sardinha

“A Negra” é a obra que inspirou Tarsila a iniciar o movimento antropofágico.

No retrato a Tarsila pinta uma mulher com traços afrodescendentes. Lábios grossos e marcados, corpo forte e peito exuberante. Todas essas características lembram a abundância e a fertilidade da mãe terra.

Essa mulher é uma antiga escrava que ela conheceu sendo criança e que provavelmente trabalhava na sua fazenda.

Repare nas mulheres pintadas nessas obras. A cor da pele, as formas geométricas e a composição…você acha que são parecidas ou diferentes?

A Tarsila mistura a cultura popular brasileira com a identidade indigenista em suas obras, com as influências europeias que vai adquirindo através das viagens e estudos que faz.

“Quero, na arte, ser a caipirinha de São Bernardo.
A mais elegante das caipirinhas,
a mais sensível das parisienses
jogada de brincadeira na festa antropofágica”.

Poema “Brasil/Tarsila”
Carlos Drummond de Andrade

Em “Caipirinha”, a artista pinta e monta, com formas geométricas cilíndricas uma paisagem e uma mulher, inspirando-se no movimento cubista. Principalmente no artista francês Fernand Léger.